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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

136. O roubo do capacete

(Clica na música e deixa rolando enquanto você lê o texto)


Sou dona do meu próprio nariz...
Nasceu comigo... É meu, oras!¹

Pelo menos o meu nariz é meu. E espero que ele continue sendo. Que ninguém ou nada o tire de mim. Mesmo que ele não seja muito bonito. Mas é MEU. Exclusivamente MEU.

Ai como é triste pensar em perder o próprio nariz! Uma das melhores coisas que já me aconteceu na vida, foi ser dona do meu próprio nariz (agora sim, metaforicamente falando). E isso dá trabalho. Muito trabalho mesmo. No meu caso, só com trabalho é possível manter esta posição na vida. E, mesmo que a gente se canse da rotina laborativa, sempre há um sentimento de gratidão porque através do “suor do nosso corpo”, podemos ter tantas coisas desejadas e necessárias.

Depois do primeiro salário, leva certo tempo para se acostumar com o poder de pagar pelo que sonhamos. Comprar sem dar satisfações.

E as coisas que vamos adquirindo tornam-se parte da nossa vida. Algumas até como um ente querido. Com nome, apelido, carinho, um cuidado especial. A gente acaba se apegando. Não a todas, é claro. É tão boa a percepção de que somos donos de tantas coisas legais das quais gostamos muito. Não importa qual situação nos levou a obtê-las: necessidade, vontade, persuasão...

E por isso, até o rápido pensamento de perder as nossas coisas nos causa dor. Sempre dói, muito ou pouco. Lamentamos quando foi por descuido. Ficamos chateados quando elas quebram. E nos revoltamos quando alguém as toma de nós. Não é justo, pensamos.

É o que tenho pensado desde que me levaram o segundo capacete. Duas vezes, situações parecidas. Moto trancada com cadeado, passado por cima do banco. Na primeira vez, foram mais “gentis”: destrancaram o cadeado, tiraram o capacete, e trancaram de novo. A moto estava na rua e “só” levaram o capacete. Na segunda, foi dentro da minha igreja. Puxaram o cadeado para trás, arrombaram o banco, e levaram o capacete. E aos poucos fui descobrindo que levaram também minhas ferramentas, luvas, e hoje descobri: o casaquinho que eu mais gostava. É mole?!

Foi hoje pela manhã que descobri do casaquinho. Fui trabalhar digerindo essa perda. Eu já tinha praticamente aceitado perder o capacete, e até comprado outro. Mas essa roupa?! Ah não! Eu gostava tanto dela!

Fui, no meu longo caminho para o trabalho, pensando nisso com muita raiva. Eu e ela -  minha moto - com “quem” sempre penso na vida. E em meio a todo aquele sentimento de raiva, fiquei pensando por que essas coisas acontecem com a gente. É para eu aprender o quê?

Lógico, que primeiramente, a não deixar mais nada dentro do banco da moto. Sempre que possível, deixá-la em algum estacionamento... Tomar mais cuidado.

Mas, o que mais me incomodou, foi o fato de só sentir falta da blusa três semanas depois. Até tinha pensando nela antes, mas como não tinha achado, usei outra. E me lembrei da minha gaveta de agasalhos – abarrotada.


Sobre duas coisas tenho pensando a partir desses ocorridos.

A primeira é quanto ao meu apego às coisas. Tenho me percebido talvez apegada demais. Achando isso fruto da maturidade, cuidando mais do que tenho, dando mais valor.

É isso sim, eu sei. E até certo ponto não há nada de mal em se apegar. Mas, até CERTO ponto. O ponto em que você consegue identificar que mesmo que venham do “trabalho de suas mãos”, as coisas que temos nos foram dadas por Alguém que não só nos dá todas as coisas, mas que nos ajuda a mantê-las. Percebi certa neura da minha parte em manter as minhas coisas. E vi que não dá para ter controle total disso. É tentar equilibrar (o meu) cuidado e confiança (nEle).

Entendi que preciso desapegar. Saber quer as coisas não vão mesmo durar para sempre. Pode acontecer. Devo tratá-las com cuidado necessário para que isso aconteça. Mas, caso contrário, entender que isso faz parte da vida.

A segunda, diz respeito ao acúmulo. E a imagem que me vem à mente quando penso nisso, é a minha gaveta que não cabe mais agasalhos. São bonitos e legais, mas eu não preciso de todos eles. E pior, que não ando acumulando só agasalhos. Confesso: eu gosto de ter.

Dias após o segundo furto, assisti a um filme com meus alunos passado pela professora de História, em que a personagem principal era uma garotinha judia que fugia dos nazistas. Ela teve que roubar para não morrer de fome. A cena foi como um despertar. Pensei na pessoa que me roubou o capacete. Aaah, eu ainda sinto muita raiva! E sei que não é justo, não é correto, é ilegal, e não é moral. Mas, sei quem me roubou além de criminoso, é vítima desse sistema em que vivemos. É vítima do nosso acúmulo. Esse acúmulo que concentra muito nas mãos de poucos, e priva a tantos outros.

Eu sei que a gente não faz por mal. E sei que somos só a gota d’água. Que o problema é bem maior. Que não damos conta de tantas demandas. Eu não dou! Mas dá para doar uns agasalhos ali. Comprar menos e investir mais em pessoas. Ajudar instituições... E por falar nisso, a Visão Mundial, por exemplo, nos possibilita ajudar. Sabia que com R$ 40,00 por mês, você pode apadrinhar uma criança e ajudar e muito a mudar a vida dela? Sejamos sinceros, esse valor pode pesar para alguns, não estou falando de sacrifícios. Mas, muitos dos meus amigos gastam mais que isso em um único fim-de-semana.

A gente precisa pensar nisso!
Eu to pensando. Mesmo!

E, não é porque eu escrevi aqui, que sou perfeita em praticar. Escrevi porque sei onde estou falhando.
Na verdade, não é de hoje que eu sei. E não é de agora que tudo vai mudar

E eu vou continuar (infelizmente) perdendo coisas.

Só não quero perder, como diz Anitelli, “a coragem do meu coração”.

Nota:
¹ Inspiração: Comunidade do Orkut de que gosto muito.

2 comentários:

  1. Pensei nisso ontem, acredita? Bom,tudo começou quando perdi a sombrinha novinha - um dia depois de comprada (AFF!), e parei pra pensar em como as coisas são descartáveis e como detesto perder coisas. Uma coisa leva a outra e fui inspirada pela Vanessinha, aquela da Mata? rsrs. A música se chama "bolsa de grife" e fala das besteiras que fazemos pra compensar o ser com o ter.

    http://www.youtube.com/watch?v=YzDqqBS2Tcc

    "Comprei uma bolsa de grife, mas ouçam que cara de pau.
    Ela disse que ia me dar amor, acreditei, que horror.
    Ela disse que ia me curar a gripe, desconfiei, mas comprei.
    Comprei a bolsa cara pra me curar do mal
    Ela disse que me curava o fogo, achei que era normal
    Ela disse que gritava e pedia socorro, achei natural

    **Ainda tenho angústia, sede.
    A solidão, a gripe e a dor.
    E a sensação de muita tolice nas prestações que eu pago pela tal bolsa de grife.**

    Nem pensei, um impulso pra sanar um momento.
    Silenciar, barulho. Me esqueci de respirar.
    Um, dois, três
    Eu paro.
    Hoje sei
    Que nem tudo será
    Escrevi meu colar,
    Dentro há o que procuro

    Meu amigo comprou um carro pra se curar do mal."

    E ainda tô ruminando a música...

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  2. Vc viu um novo desafio da Visão Mundial que é a doação e cabras? Achei fantástico!

    Boa reflexão, Dani!

    Volta a escrever nesse Blog, vai!

    Bjus

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